sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ministro norueguês preocupado com o Código Florestal

O ministro de meio ambiente norueguês Bård Solhjell manifestou esta semana preocupação com a proteção das florestas. O governo norueguês tem investido uma boa grana no Fundo Amazônia para promover políticas efetivas de redução do desmatamento no bioma, como principal instrumento de uma política de desmatamento evitado (REDD). Agora, estão preocupados com outras questões que podem afetar os esforços feitos até agora.

 
Ministro de Meio Ambiente Bård Solhjell está preocupado com o Código Florestal. 
Foto: Scanpix

A principal questão é o destino do Código Florestal. O meandro de firulas jurídico-regimentais que gravitam em torno das propostas negociadas é demasiado espesso para dar aos noruegueses uma noção clara do que está em jogo. "Não sabemos o que está acontecendo após o veto", confessa o ministro. Há uma preocupação em torno da possibilidade de redução da área florestal que proprietários estão obrigados a manter, bem como de anistia a desmatamentos ilegais.
Enquanto o Código é esquartejado conforme o regimento de Brasília, a grana do Fundo Amazônia continua parada, de acordo com o entendimento do ministro. "É importante que esse recurso leve a políticas que efetivamente levem à diminuição do desmatamento. Pagamos pelos resultados alcançados", disse Solhjell à agência Reuters.
Na Indonésia, outro país que mantém políticas de REDD para controle do desmatamento em parceria com a Noruega, as coisas tampouco parecem caminhar muito bem. Apesar do acordo celebrado em 2011, que incluía uma moratória  exigida pelo governo norueguês como condição, o desmatamento parece continuar rolando solto por lá. "A Indonésia precisa dar o próximo passo, passar da fase inicial para a próxima fase em que efetivamente se reduza o desmatamento", afirmou o ministro, repetindo a ladainha: "o dinheiro depende dos resultados".

Fonte: http://www.aftenposten.no/nyheter/uriks/.UDyNv53va7o.email

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Pelo direito de pitar na plataforma

Outro dia pesquei um exemplar na cesta de livros de um sebo no centro de Oslo: "A Greve na Plataforma Statfjord A" (Ø.M. Halvorsen, 1978). Arrematei a pechincha e, curioso, fui ler sobre a greve que dominou o noticiário nacional em 1978, ainda quando a indústria petrolífera norueguesa dava seus primeiros passos.
A greve que parou a plataforma por uma semana teve como motivo um aviso proibindo o fumo nas plataformas-alojamento, onde os trabalhadores dormiam:
"A partir de domingo, 6 de agosto, fica proibido atravessar a ponte para a Polymariner para fumar. Violação dessa norma levará a consequências disciplinares."
O campo de Statfjord, que fica na divisa da plataforma continental norueguesa com a inglesa, foi descoberto em 1974. O campo tem três plataformas integradas: Statfjord A, B e C, e o reservatório de óleo fica a uma profundidade entre 2500 e 3000 metros.
A plataforma Statfjord A fica localizada na parte central do campo, e começou a produzir em 1979, com reservas recuperáveis de 569 milhões de m3 de petróleo. Hoje, restam apenas 4,8 milhões de m3 a serem extraídos.

File:StatfjordA(Jarvin1982).jpg
Plataforma Statfjord A conectada ao alojamento flutuante Polymariner. Jarle Vines, 1982
A construção dessas plataformas em alto-mar é cercada de tragédias e histórias épicas. Na Statfjord A não foi diferente. Um acidente durante sua construção, em fevereiro de 1978, custou a vida de 5 mergulhadores, presos em um incêndio no interior de um dos três pilares de concreto da plataforma, a 50 metros de profundidade.
A situação dos trabalhadores na plataforma era pouco abonadora. A operadora da plataforma era a norte-americana Mobil (hoje ExxonMobil), cujos líderes comumente se referiam aos operários noruegueses como "white niggers". A situação sanitária tampouco era um mar de rosas: cerca de 8 fétidos banheiros disponíveis para 800 homens. Pitar já era proibido na plataforma de produção, permitido apenas nos cafés durante as pausas de trabalho. A proibição se ampliou também aos cafés, e restaram apenas os alojamentos como locais permitidos para fumar. Quando cartazes surgiram proibindo os trabalhadores de se locomoverem aos seus alojamentos para pitar durante as pausas de trabalho, foi a gota d'água. Cerca de 1000 trabalhadores da Brownaker, subcontratada da Mobil, cruzaram os braços pelo direito de pitar. Difícil imaginar algo parecido hoje, onde até na rua ficou proibido fumar.
 













 

Charge de Roar Hagen no jornal Stavanger Aftenblad: "É claro que eu pito onde eu quiser!"


O livro conta em detalhes como foi a negociação entre o comando da greve e a empresa, bem como a cobertura jornalística dada ao evento por jornais de todo o país. É um relato impressionante do embate pelos direitos trabalhistas em um ambiente semi-selvagem de febre do ouro, e de como o comando da greve na plataforma mantinha sua coesão em meio a pressões, fura-greves e pelegos, em alto-mar e no continente.
O relato também dá uma perspectiva interessante de como a proibição ao fumo se naturalizou ao longo das décadas. A certa altura da greve, o jornal VG publicou, na seção "5 na rua" (em que pessoas são aleatoriamente entrevistadas sobre um assunto), o resultado da enquete "Você apoia a greve contra a proibição ao fumo?" (8/8/1978).
Olha a resposta do cidadão Hans Christophersen: "Eles devem dar um jeito de alguma forma liberar o fumo em intervalos regulares. Eu mesmo fumo, inclusive no meu local de trabalho. Jamais aceitaria uma proibição ao fumo aqui."  De 5, quatro apoiaram os trabalhadores em sua reivindicação.
O resultado da greve? Claro, depois de uma semana parados, a empresa cedeu e arrancou os cartazes proibindo o fumo. E assim ficou garantido o direito dos trabalhadores de pitar na plataforma.


Fontes: 
Faktasider, Oljedirektoratet
Streiken på Statfjord A, Ø.M. Halvorsen, Forlaget Oktober A\S, Oslo 1978
Wikipedia