sexta-feira, 23 de junho de 2017

Petróleo, não Amazônia, é o foco de Temer na Noruega

Protestos contra a política socioambiental do governo Temer - que inclui redução de áreas protegidas, desmantelamento do licenciamento ambiental, grilagem de terras públicas - marcaram a visita do presidente ilegítimo à Noruega ontem e hoje (23/6/17). O aumento do desmatamento nos últimos dois anos de cerca de 30% foi o pano de fundo que marcou - ou manchou - o encontro entre os dois ministros de meio ambiente. O governo norueguês, fiel à sua política de cooperação de resultados, anunciou uma redução de cerca de 50% - mais ou menos R$ 160 milhões - no apoio ao Fundo Amazônia, devido ao aumento do desmatamento.


Capiroto foi recebido com um sonoro #FORATEMER, com sotaque norueguês, em Oslo hoje (23/6/17)

No entanto, a atenção de Temer neste momento está voltada não para a maior floresta tropical do planeta, mas para o mar - mais especificamente, a plataforma continental brasileira e o petróleo que se encontra embaixo do chão. 

A reunião de Temer com o empresariado norueguês foi o ponto principal da agenda do golpista ontem. Recepcionado pela Associação dos Armadores da Noruega - organização que representa os interesses de empresas que fretam embarcações que prestam serviços à Petrobras - a delegação brasileira gastou a tarde confabulando como os interesses do empresariado norueguês no Brasil podem ser preservados nesse clima de crise.

O setor de petróleo norueguês é o salva-vidas da Petrobras na era pós-petrolão. A petroleira estatal norueguesa Statoil é hoje a maior operadora em solo brasileiro depois da Petrobras, e vem expandindo a passos largos seus ativos no Brasil. A empresa já investiu cerca de USD 10 bilhões no Brasil, e tem planos de triplicar sua produção até 2030. Fez um lobby poderoso mas silencioso para reformar o marco legal do pré-sal, de forma a permitir que empresas estrangeiras pudessem se tornar operadoras de campos na região do pré-sal, o que antes era algo reservado apenas à Petrobras. 

Uma vez aberta a porteira e alterada a lei - o que Temer fez questão de priorizar assim que sentou na cadeira de presidente -, a empresa se apressou em adquirir a participação da Petrobras no campo de Carcará, na região do pré-sal, pelo valor de USD 2,5 bilhões - mais do que o dobro do apoio prometido ao Fundo Amazônia desde seu início, de uma tacada só. Metade do negócio foi desembolsado adiantado, em dinheiro, para ajudar a Petrobras a fazer caixa e sair da lama. O acordo foi questionado na justiça por não ter sido objeto de licitação, mas a petroleira norueguesa até agora tem conseguido dobrar os juízes brasileiros, mantendo a validade do negócio.


Statoil segue ampliando seu portfolio de ativos no Brasil, agora também como operadora no pré-sal, graças à mudança na legislação promovida por Temer. 

De outro lado, uma miríade de pequenas e médias empresas norueguesas que orbitam em torno da Petrobras foram as grandes "perdedoras" de toda a onda do petrolão. No calor da crise, uma das medidas tomadas pela Petrobras foi enxugar sua carteira de fornecedores, rescindindo contratos de afretamento de embarcações norueguesas no valor de bilhões de dólares. Agora, elas querem entrar no jogo de novo. Certamente essa foi a principal mensagem do empresariado norueguês para Temer. 


Para agrada-los, nada melhor do que um gordo pacote de incentivos fiscais. É o que Temer pretende priorizar através da renovação do REPETRO, o regime de bondades fiscais que se aplica a exportação e importação de bens e serviços utilizados na produção petrolífera, e cujo prazo expira em 2019. Sem a renovação do REPETRO, difícil fazer o setor voltar a bombar como há dez anos atrás.

Não surpreenderia se esta fosse a próxima bola da vez, depois que ele voltar ao Brasil. Isso se ele conseguir se manter na cadeira por tempo suficiente. Sinceramente espero que não.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Limão brasileiro contaminado com agrotóxico é retirado das prateleiras norueguesas

Produto, que provavelmente veio do estado de São Paulo, estava contaminado com carbofurano, agrotóxico proibido na União Européia

Anteontem (03/10/16) veio o recall: a maior importadora norueguesa de frutas e legumes Bama publicou comunicado informando que o lote de limão tahiti vindo do Brasil estava contaminado com carbofurano. Todas as grandes redes de supermercados varejistas foram alertadas a suspender a venda da fruta. Consumidores foram alertados a jogar fora ou devolver à loja, e consultar seu médico, em caso de suspeita de intoxicação. Segundo um técnico da vigilância sanitária, um limão e meio desses consumido por uma criança seria o suficiente para causar uma intoxicação aguda.

Limão tahiti é vendido a preço de ouro na Europa

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Políticos dinamarqueses contaminados por glifosato

25 membros do parlamento dinamarquês tiveram urina coletada; 100% das amostras indicou presença de glifosato

Parece que estamos vivendo a versão pós-moderna do "sonho do DDT", em que todos acreditavam na sua inofensividade, até acordar para constatar que estávamos envenenados faz tempo. O teste para aferir contaminação por glifosato em políticos do parlamento foi realizado pelo Instituto Público de Pesquisa em Saúde da Universidade de Copenhagen. 100% dos testes foram positivos. Embora seja um teste feito em uma amostra muito pequena (25 pessoas), 100% é 100%.

"Urinal" alemão foi 100% glifosato
Outra coisa que chama a atenção é o fato de que aqueles que tinham hábito de alimentação orgânica também estavam contaminados por glifosato, ainda que em níveis bem menores do que os que mantinham hábitos alimentares convencionais (0,89 ng/mg e 1,45 ng/ml respectivamente).

"Hoje provavelmente você pode testar qualquer europeu e vai encontrar glifosato. Aí você se pergunta: será que isso faz alguma diferença? Eu diria que, se a substância é classificada como cancerígena de acordo com a OMC, então faz". A pesquisadora Lisbeth Knudsen, responsável pelo estudo, realizou outra experiência semelhante em paralelo, com mães e crianças, também com amostragem pequena (27 pessoas): 100% na lata, de novo. Neste caso, as crianças tinham mais glifosato na urina do que os adultos.

Urinal 2015 na Alemanha também bateu 100%

Outros testes de contaminação por glifosato foram feitos em amostras maiores, juntando milhares de pessoas, como o chamado "Urinal 2015", que reuniu 2 mil pessoas, 99,6% das quais testaram positivo para glifosato. Destes, 75% estavam acima do nível permitido, e cerca de um terço apresentava níveis alarmantes, de 10 a 40 vezes acima do permitido. Os níveis mais elevados foram encontrados entre crianças de 0 a 9 anos, e adolescentes entre 10 e 19. Aqueles morando na zona rural foram ainda mais afetados. O estudo foi prontamente desqualificado como sem base científica, segundo o instituto federal de análise de risco alemão. Mas as pessoas continuam preocupadas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"Pesticidas naturais são tão perigosos quanto os convencionais": a nova verdade do agronegócio?

O que faz dois pesquisadores na Lapônia, Noruega e o representante dos fabricantes de agrotóxico no Sul do Brasil dizerem praticamente a mesma coisa, ao mesmo tempo?

No último dia 28/8/16, dois pesquisadores saíram nos jornais locais da Lapônia, Noruega, criticando os perigos da agroecologia, e dizendo que as substâncias químicas naturais são tão perigosas quanto as substâncias químicas obtidas sinteticamente. Assim, argumentam os pesquisadores, toda aquela conversa sobre orgânicos sem pesticidas seria uma farsa: a produção orgânica permite sim a aplicação de pesticidas naturais, então na prática é tão perigosa quanto a agricultura convencional.

A Piretrina, presente no Crisântemo, é um pesticida natural. Foto: Eleonora Enking/Flickr (CC)

domingo, 28 de agosto de 2016

"Natural pesticides as dangerous as conventional": the new truth of agribusiness?

What makes two researchers in Lapland, Norway and the representative of the pesticide manufacturers in Southern Brazil say almost exactly the same phrase, almost at the same time?

One week ago (21/08/16), at the local news website of NRK Lapland, Norway, two researchers raised hell about the dangers of organic agriculture, declaring that natural chemical substances are as dangerous as synthetically obtained chemical substances. Thus, all that discourse about organics not being sprayed was just talk: organic production can be sprayed, so in practice is as dangerous as conventional agriculture.

Pyretrin from the Chrysanthemum is a natural pesticide. Picture: Eleonora Enking/Flickr (CC)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Noruega se opõe a "direitos humanos" na negociação sobre acordo climático em Paris

Delegação norueguesa pagou outro mico ao ventilar a possibilidade de usar créditos de carbono advindos da redução do desmatamento.

Com a reputação de assumir posições de vanguarda nas negociações climáticas, sobre a delegação norueguesa recaíam as melhores expectativas (daqueles que acreditam em negociações internacionais) para a reunião de Paris. Agora, com o andar da carruagem, parece que não se pode esperar tanto dela quanto sua pomposa retórica climática fazia crer.

Cortou grana e foi para Paris
Logo que chegou, a primeira ministra Erna Solberg já tratou de sair bem na foto, anunciando a continuação do compromisso de clima&florestas até 2020 (no mesmo modelo de cooperação por resultados). No entanto, nem todos viram que ela já saíra de casa com o filme parcialmente chamuscado, em razão dos cortes feitos no orçamento público para 2016. Em 2016, a iniciativa, que apóia o Fundo Amazônia, será US$ 27,5 milhões menor do que em 2015.

Erna feliz em Paris, depois de ter anunciado a continuidade do compromisso de clima&florestas.
Deixou de dizer que cortou grana do programa em casa antes de viajar. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Crise migratória na Noruega chega pela Rússia, reforça agenda anti-imigração e toma recursos da cooperação

Há poucos dias da Conferência sobre Clima, governo corta recursos da sociedade civil e da política de clima&florestas, para lidar com o afluxo de imigrantes na Noruega

É o caminho mais seguro para chegar ao norte da Europa, mais do que o Mediterrâneo ou os Balcãs. O boato rola solto entre os "piratas", que cobram até 1500 dolares para transportar imigrantes de Murmansk, Rússia, até o posto de controle de Storskog, na cidade de Kirkenes, Noruega, a gélidos 70º de latitude.


A onda migratória que assola a Europa tem diferentes faces e rotas. A fronteira Russia-Noruega se tornou atualmente uma das rotas mais intensas de migração. Cerca de 200 migrantes cruzam a fronteira em Storskog todos os dias - de bicicleta. A intensidade preocupa o prefeito da pacata cidade de 3.500 habitantes, que se vê subitamente tomada de pessoas de diferentes países e culturas. No ano passado inteiro, foram apenas 20. Este ano, está tudo fora de controle.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Grandes petroleiras boicotam 13º leilão da ANP, enquanto fantasma do xisto permanece

Apenas 14% dos blocos foram arrematados, segundo pior resultado da história da ANP. Pequenas empresas investem em áreas com potencial de xisto, apesar da briga judicial da rodada passada.

Apesar de enfatizar a palavra "sucesso" sucessivamente, a diretora da ANP Magda Chambriand não conseguia disfarçar o clima de frustração que reinava no encerramento da 13a rodada de petróleo e gás, que acaba de terminar. 
Dos 266 blocos oferecidos, apenas 37 foram arrematados, e os bônus e investimentos totais ficaram bem abaixo das expectativas oficiais. Foi a segunda pior rodada da história da ANP, perdendo apenas para a 5a rodada, em 2003.

Só deu peixe pequeno

Embora todas tenham se inscrito, nenhuma das grandes petroleiras apresentou uma única oferta. A Petrobras tampouco manifestou interesse nos blocos, nem deu qualquer indicação previa ao governo de que assim o faria. A diretora da ANP, que modulou as expectativas para a rodada como "moderadas", sugeriu que a ausência da Petrobras pode ter também levado as estrangeiras a boicotarem o leilão, já que todas querem ser “best friends” da empresa brasileira.


Sociedade civil protesta contra o 13o leilão


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Failure to comply with safety procedures caused explosion on Norwegian oil vessel in Espírito Santo

Yesterday (11/6/15), exactly four months after the platform vessel Cidade de São Mateus exploded  40 km offshore of Aracruz, Espírito Santo, Petrobras released a press note informing that noncompliance with operational safety procedures was the main reason of the accident that caused 9 deaths. The vessel is owned and operated by Norwegian company BW Offshore on behalf of oil-giant Petrobras.

The technical report has been forwarded by Petrobras to Brazilian oil agency ANP, Federal and Civil Polices. Petrobras also stated that "the information that we had been previously warned about such failures is incorrect", thus indirectly ascribing the Norwegian company full responsibility over the accident.

FPSO Cidade de São Mateus: failure to comply with safety standards caused gas explosion.
Photo: Capitania dos Portos do ES/Divulgação

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fundo do Petróleo norueguês excluirá carvão de seus investimentos

Ontem (28/5), o parlamento norueguês (Stortinget) deu um passo inédito para reduzir os investimentos globais em combustíveis fósseis. Partidos de oposição e governo concordaram, no âmbito da Comissão de Finanças do parlamento, em estabelecer regras para excluir as empresas que exploram carvão do portfólio de investimentos do Fundo de Petróleo norueguês, um dos maiores fundos de investimento do mundo (cerca de US$ 900 bilhões). O acordo ainda vai a votação formal no próximo dia 5 de junho, mas tudo indica que deve ser consolidado, diante do consenso político alcançado. A notícia foi comemorada por organizações ambientalistas norueguesas, que há tempos já vinham atuando politicamente no sentido de aprovar essa regra.


Termelétricas a carvão na China também recebem investimentos do Fundo de Petróleo norueguês.
Foto: Jason Lee/Reuters /NTB Scanpix

As regras, que futuramente devem vir a fazer parte das diretrizes éticas do Fundo, determinam que empresas que tenham mais de 30% de seu faturamento ou de suas atividades relacionados à exploração de carvão devem ser excluídas do portfólio do Fundo. Essa regra deve se tornar parte das diretrizes éticas administradas pelo Conselho de Ética (Etikkrådet) do Fundo, entidade autônoma que tem o poder para investigar violações e aplicar os critérios para exclusão de empresas do Fundo. O carvão entra agora na lista dos investimentos proibidos do Fundo, somando-se ao tabaco e armamento (este último com exceções).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Hvem betaler prisen på det norske oljeeventyret i Brasil?

I går (11/02/15) eksploderte produksjonskipet (FPSO) Cidade de São Mateus i Aracruz, Espírito Santo, Brasil. Minst fem personer er bekreftet omkommet i ulykken. Saken har fått stor oppmerksomhet i brasiliansk media og er betraktet som den mest alvorlige ulykken i oljebransjen på fjorten år.

Ifølge oljearbeidernes fagforening Sindipetro/ES skal årsaken til ulykken ha vært en gasslekkasje på grunn av manglende vedlikehold og dårlig utstyr. Sindipetro/ES hevder at en bevisst strategi for outsourcing arbeidet på plattformer har svekket kapasiteten til å opprettholde høye sikkerhetsstandarder i oljevirksomheten i Brasil. Havnemyndighetene i Brasil har iverksatt en teknisk etterforskning av årsakene til ulykken og resultatene blir offentliggjort om 90 dager.


Imagem de arquivo da plataforma FPSO da Petrobras, em São Mateus, Espírito Santo (Foto: Divulgação)
FPSO Cidade de São Mateus

Produksjonskipet som eksploderte i går eies av det norske selskapet BW Offshore og har blitt utleid til Petrobras fra 2009 til 2018 for 4,1 milliarder norske kroner. BW Offshore er et av mange norske selskaper som tjener fett på brasilianske søkkelen. Ifølge statssekretæren til olje- og energidepartamentet Kåre Fostervold (FrP) er Brasil det nest største internasjonale markedet for den norske offshore supply og serviceernæringen, med en omsetning på til sammen 31 milliarder norske kroner kun i 2013.

I tillegg får norske offshorerederier store skattelettelser i Brasil. Et fritak på kildeskatt reduserer fra 15 prosent til null skatten på utbetalinger til utenlandske selskaper som leier ut skip i Brasil. Dette betyr en fabelaktig økonomisk fordel for norske rederier som leier forskjellige båter og skip til Petrobras.

Når dette er sagt og når man ser på hvor alvorlig situasjonen er i Espírito Santo akkurat nå må det være lov å spørre seg hvorvidt BM Offshore opptrer ut fra de semma etiske- og sikkerhetsstandarder man forventer at de følger hjemme i Norge. Og hvorvidt det tar opp et ansvar så stort som sitt økonomiske gevinsten.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

VMs mirakel: "Da skal den halte klatre som en hjort"

Mange mener at fotball skaper mirakler. Og den skjedde nok i VM i São Paulo, da "funksjonshemmede" plutselig jublet og hoppet i vær med Brasils mål!




På en side, mangel av vanlige billetter; på den andre, masse billetter for funksjonshemmede igjen (og billigere). Hva gjør man da?
Man jukser rett og slett.
Juksere ble tatt av overvåkningskameraer og andre fans som syntes situasjonen var litt rar. Politiet etterforsker hendelsen, helt klart, men...

http://www.correiodoestado.com.br/noticias/cadeirantes-que-se-levantaram-durante-jogos-sao-investigados_219679/


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Vale vende sua participação na norueguesa Hydro: desnacionalização total da cadeia de alumínio

Hoje li num site de business que a Vale vendeu sua participação de 22% na norueguesa Hydro, por US$ 1,8 bilhão. A Hydro assumira em 2011 a cadeia completa de produção de alumínio, desde a mina de bauxita de Paragominas até o complexo industrial Albras-Alunorte em Barcarena, Pará.
 Vale SA Chief Executive Officer Murilo Ferreira
 CEO da Vale, Murilo Ferreira, está orgulhoso de se desfazer do mico do alumínio e jogar toda a riqueza mineral do Brasil nas mãos dos noruegueses.

A transação envolvia pagamento não apenas em dinheiro, mas também em participação acionária transferida da Hydro à Vale (22% das ações mais uma cadeira no board da norueguesa). Agora, a Vale, orgulhosamente, se desfaz do último elo que ligava todo esse complexo mineral ao Brasil, completando o ciclo de desnacionalização do aluminio produzido na Amazônia. A justificativa da mineradora brasileira é a de enxugamento, venda de ativos para se concentrar em seu carro-chefe, a produção de minério de ferro em Carajás.
Lembrei-me de um artigo do festejado jornalista paraense Lucio Flavio Pinto, em que ele critica a Vale como uma multinacional "anti-Brasil". E se refere justamente à operação de venda da sua cadeia de alumínio à norueguesa Hydro, que à época festejara a maior operação de aquisição de ativos da história da Noruega, garantindo um suprimento de matéria-prima para o mercado norueguês pelos próximos 100 anos. Uma empresa que foi concebida como de interesse estratégico nacional, depois de privatizada, simplesmente se desfaz de reservas importantíssimas de minério que poderiam, se bem administradas, ensejar um ciclo de desenvolvimento positivo em uma grande região.E ainda por cima espiona jornalistas e ativistas de movimentos sociais e organizações da sociedade civil que ousam denunciar seus descalabros.


Ao mesmo tempo, tramita no Congresso uma proposta de reforma do Código de Mineração. O projeto de lei apresentado pelo governo pretende dar mais celeridade e segurança jurídica para sustentar o boom de mineração que o país vem vivendo na última década. Por outro lado, silencia em aspectos importantes como os impactos socioambientais da atividade. Um comitê da sociedade civil com centenas de organizações, contrário à forma como o novo marco legal vem sendo discutido, lançou ontem um video interessante sobre os impactos dessa atividade, e a necessidade de abrir um debate mais amplo sobre o interesse nacional sobre as reservas de minério e as salvaguardas socioambientais para essa atividade.
E o Brasil, como fica nisso? Com que pedaço dessa história ficam os paraenses? Apenas com a contaminação, como em Barcarena? E qual a responsabilidade socioambiental dos noruegueses sobre todo esse complexo? Um ou dois projetinhos locais para treinar mão de obra qualificada e embelezar Paragominas? Construir um estádio de futebol onde não há time?
É realmente incrível a burrice de nossos governantes, e a apatia de todos nós.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Governo ultradireita corta recursos da cooperação internacional


Na última 6a feira (8/11/13), o recém eleito governo norueguês, formado por uma coalizão direita-ultradireita, lançou sua proposta de orçamento público para o ano que vem. O documento indica mudanças no orçamento já proposto pelo governo de saída, formado pela coalizão social democrata. No campo da cooperação internacional, conforme já se esperava, as notícias não são boas.




A dupla reaça-dinâmica Erna Solberg (primeira ministra) e Siv Jensen (ministra de finanças) apresentou o orçamento do novo governo para 2014 no parlamento norueguês; cortes para cooperação internacional, facilidades para o empresariado norueguês ganhar o mundo.

Clima&Florestas sofre corte

Há uns 10 dias atrás, numa conferência sobre REDD+ organizada pela Norad, a nova ministra do meio ambiente Tine Sundtoft (Høyre) declarou:
"reduzir o desmatamento é uma das poucas possibilidades absolutamente necessárias para redução de emissões rápido o suficiente para limitar o aquecimento global a até 2 graus. É portanto absolutamente necessário reduzir drasticamente o desmatamento em países tropicais. Não no futuro, mas no curso dos dois próximos anos."
Era um sinal de esperança, que se esfumaçou poucos dias depois. Na 6a passada, o governo resolveu cortar 400 milhões de coroas (R$ 150 milhões) da política de Clima&Florestas, sob a qual se situa o apoio ao Fundo Amazônia via BNDES.
Isso não necessariamente significa que o corte recairá diretamente sobre o Brasil, já que a política se aplica também a outros países com florestas tropicais sob pressão de desmatamento, como Congo e Indonésia.
A justificativa para o corte é o surrado argumento de que a grana está parada na conta. Esse discurso vem sendo exaustivamente repetido por diferentes meios de comunicação e políticos noruegueses há muito tempo. A despeito das tentativas de mostrar que a cautela no uso dos recursos é algo positivo, que criar mecanismos de controle social toma tempo, mas depois evita o mau uso e desvio de grana, o conto foi repetido tantas vezes que virou verdade absoluta, ainda mais quando apela para o bolso do contribuinte norueguês.



A nova ministra do meio ambiente fala bem do REDD+ em conferência temática em Oslo; dias depois, tesourou o orçamento destinado à iniciativa.


A crítica veio tomar vernizes oficiais a partir de um parecer do tribunal de contas norueguês (Riksrevisjon) apontando falhas na gestão dos recursos da política de Clima&Florestas, como p.ex. a falta de indicadores para alcance de resultados e dos objetivos.
O calcanhar de aquiles da política tem sido a Indonésia, onde problemas de corrupção afetam a implementação de qualquer coisa. No Brasil, para o tribunal norueguês, o fato da grana ficar no BNDES, ao invés de vantagem, é mico: afirmam que não é possível verificar com exatidão como o recurso está sendo usado, nem quanto há em desuso, pois o banco joga a grana na conta geral e não discrimina o suficiente. A falta de transparência do banco e sua inexperiência/incapacidade de lidar com projetos em pequena escala contribui diretamente para o quadro de corte.
Arrimado nesse parecer, foi fácil ao novo governo justificar a tesourada; mas ao mesmo tempo, prometem que, se a demanda por recursos aumentar, eles virão (desde que haja resultados concretos). Assim afirmou o governo em sua página oficial: "os países receptores têm mostrado que necessitam de tempo para desenvolver projetos concretos de cooperação. Isso indica que a proposta de alocação pode ser reduzida sem que isso signifique redução de atividades. O governo reduz portanto a proposta de alocação para 2014 em 400 milhões, para 2.512,5 milhões de coroas. Caso a necessidade de recursos para pagamentos baseados em resultados para 2014 for maior, o governo proporá a alocação de recursos em consonância com o compromisso climático".


América Latina tem corte; Banco Mundial e Norfund aprofundam modelito cooperação-business

O novo orçamento dos conservadores mostra que o governo pretende adotar uma vertente nórdica do lulismo: investir nos mais pobres e nos mais ricos.
O governo cortou recursos da cooperação bilateral com países da América Latina, e aumentou para os países mais pobres da África, sob a modalidade de "desenvolvimento de negócios", ou seja, para estimular a criação, instalação e promoção de novas empresas, de preferência norueguesas, nesses locais.
Esse modelito cooperação-business fica ainda mais evidente no aumento de recursos para o Banco Mundial (260 milhões de coroas, R$ 97,7 milhões), em especial para a Associação Internacional de Fomento, o braço do banco nos países mais pobres. O foco temático que o governo norueguês pretende imprimir é investir na educação de meninas.
O fundo norueguês de investimentos em países em desenvolvimento - Norfund também teve sua carteira abonada com o novo orçamento (50 milhões de coroas, R$ 18,8 milhões). O fundo investe em facilitar a vida de empresas norueguesas atuando fora de seu país de origem. Trata-se portanto de promover o empresariado norueguês mundo afora.

Mais por vir... 

O governo anunciou cortes tímidos, com a cautela de quem entra em terreno novo, sem maioria no parlamento. Resta saber como a dupla dinâmica Solberg/Jensen vai soltar suas asinhas no decorrer dos tenebrosos 4 anos de mandato...

domingo, 6 de outubro de 2013

Governo norueguês será coalizão direita-ultradireita

Desde o último dia 9 de setembro, os quatro partidos que formam o bloco conservador que ganhou as eleições parlamentares na Noruega, liderados pelo conservador Høyre de Erna Solberg, estavam internados em uma rodada de negociação fechada (sondering), para medirem divergências e sondarem a possibilidade de formar um governo com os quatro, incluindo tanto o ultradireita FrP como os de centro KrF (cristão) e Venstre.
Muito se especulou sobre quais as constelações mais prováveis e sobre as chances de os partidos menores de centro (que são os fieis da balança para conseguir a maioria conservadora no parlamento) se arriscarem a entrar numa barca onde o extrema direita FrP, liderado por Siv Jensen e com bancada maior, terá influência demais.

MØTTE PRESSEN: Erna og Siv kom med noen avsløringer fra forhandlingene torsdag.









Erna Solberg (Høyre) e Siv Jensen (FrP): essas duas senhoras guiarão a Noruega nos próximos 4 anos, na primeira coalizão direita-ultradireita da história do país.

No começo de outubro, os jornais anunciaram o desfecho das conversas: os partidos de centro KrF e Venstre decidiram ficar fora do governo, mas fecharam um acordo de apoio ao novo governo no parlamento, incluindo pontos de pauta que conseguiram ganhar nas negociatas. A vitória mais importante foi o compromisso do governo de não abrir as regiões de Lofoten, Vesterålen e Sonja para prospecção petrolífera durante o seu mandato, questão especialmente cara ao Venstre, que saiu do processo se declarando vitorioso. O KrF conseguiu negociar a questão das crianças asiladas, mas tudo o mais de política de imigração deve se tornar mais restrito, já que este é um ponto de honra para o ultradireita FrP.

Deep blue
Assim, o novo governo será uma coalizão "azul escura", direita-ultradireita, entre Høyre e FrP. Os dois partidos continuam a rodada de sondagem entre si para avançar na futura plataforma de governo.
Os principais traços do futuro governo devem ser uma maior abertura para o setor privado prestar serviços públicos, alguma pitada populista tipo redução de pedágio ou flexibilização de consumo de álcool (talvez as lojas fiquem um par de horas a mais abertas), e uma restrição no campo das políticas de imigração/integração, que é o ponto caro ao FrP.
Na política econômica, a questão chave é a regra orçamentária (handlingsreglen) que define o quanto se pode usar do Fundo de Petróleo (Oljefondet). Todos os partidos do espectro político concordam que devem respeitar a regra orçamentária, exceto o FrP, que será governo. Nessas rodadas entre Høyre e FrP, esse ponto deve tomar um tempo das duas senhoras. O FrP quer usar mais grana do fundo para investir em infraestrutura, estradas etc. Argumentam que é uma bobagem estar sentado sobre tamanha fortuna (o fundo tem US$ 3.6 trilhões) sem poder usa-la em  benefício do país. Ao mesmo tempo, sabem que quebrar essa regra passaria um sinal claro de insegurança para a população e investidores, de que o governo estaria assumindo uma postura irresponsável de uso do fundo, o que poderia causar superaquecimento, inflação etc. Seria uma pisada federal logo no início do jogo. É pouco provável portanto que a regra mude. Mas no jogo de toma-la-da-cá, engolir esse sapo confere ao FrP a chance de lançar algum sapo de volta ao Høyre.

Erna vai suar a camisa no Parlamento
A fofa Erna Solberg certamente perderá uns quilinhos para conseguir "governabilidade" para seu projeto deep blue.  É que como os dois partidos juntos não têm maioria no Parlamento, vão depender de conquista-la para aprovar tudo aquilo que não constou da lista negociada com os pequenos de centro. E não é pouco.
O ultradireita FrP sempre declarou que não apoiaria nenhum governo do qual não fosse parte. Isso obrigava o Høyre a engolir a presença incômoda deles para fazer vingar o sonho da virada conservadora. As pesquisas de opinião mostravam que o partido precisava também conquistar o apoio dos dois menores de centro para virar o jogo. Por isso, Erna Solberg sempre fora tão clara em dizer que queria um governo com todos os quatro juntos. Esse projeto foi por terra.
É previsível que o início do novo governo seja suave, e que os partidos de centro apoiem a nova plataforma de governo, garantidos pelo compromisso selado recentemente. À medida que o tempo passa, no entanto, melindres e insatisfações podem criar uma bola de neve que force o governo a renegociar sua coalizão de apoio em nome da governabilidade. A ver.
Lembrando sempre que o maior partido de todos, o partido trabalhista (Arbeiderpartiet - Ap), sai do poder mas passa a estar livre leve e solto na oposição, sem os dois menores SV e Sp na aba (que formam a coalizão verde-vermelha), o que o torna especial objeto de flerte, e cujo apoio pode ser chave para virar o jogo em votações no parlamento.

Cooperação não é prioridade na mesa
A política de cooperação não é um tema prioritário nessas rodadas de negociação, por isso pode vir a ser rifada como moeda política em algum caso de maior importância. O único partido que tinha esse tema como prioritário era o cristão KrF, que caiu fora do governo.
Os dois partidos do governo devem restringir a cooperação com América Latina e focar na África, argumentando que países de renda média não precisam de dinheiro. A cooperação com o Brasil, no entanto, não deve mudar demais no início, já que a maior parte dela vem da política de Clima e Florestas (Fundo Amazônia), algo que o Høyre declarou que irá manter, apesar das críticas pela falta de resultados do fundo. O acordo entre os países para apoio do Fundo Amazônia termina em novembro de 2015, depois disso sabe-se lá.
Ademais, quando empresas norueguesas ganham tanta grana com exploração de petróleo no Brasil (desde agosto de 2013, quatro fecharam contratos de fornecimento com a Petrobrás em valor aproximado de US$ 3,9 bilhões), é de bom tom manter uma política de cooperação ambiental para envernizar a imagem. Não é tão certo no entanto o destino de iniciativas como o programa de apoio aos povos indígenas, através da embaixada norueguesa.

sábado, 21 de setembro de 2013

Por quê ninguém rouba a minha bolsa?

Sabe aquela sensação que se tem quando você esquece sua bolsa com tudo dentro no bar e só lembra no dia seguinte?

No Brasil, a sensação é de desespero seguida de resignação e preguiça de ter que atravessar a via-crucis burocrática para tirar RG novo e tudo mais. Esperança real de recuperar a dita é ínfima, é quase como tirar o bilhete premiado.

Na Noruega, a chance de conseguir rever sua bolsa - com tudo dentro - é grande, de acordo com um interessante artigo que li hoje. Lá diz que os noruegueses são campeões em confiar no próximo, e que isso torna não apenas a vida mais simples, mas o país mais rico economicamente também.


 Se você perder sua carteira neste bar de Oslo, pode botar fé em reavê-la.

 Um curioso "teste da carteira perdida", feito pela revista Readers Digest pretende "medir" esse grau de confiança através da proposital "perda" de 10 carteiras por cidade, em mais de 100 diferentes cidades no mundo; cada carteira com 50 dolares e o contato do dono. Em Oslo, as 10 foram devolvidas; em Brasília, o resultado foi surpreendente positivo: 5 foram devolvidas, 5 se foram.

É claro que a revista não é um cânone do mundo científico, mas interessante pensar sobre o quanto a confiança no próximo pode tornar o país economicamente mais rico e a vida mais simples.

Não apenas porque não vou precisar me aporrinhar no Poupatempo para tirar documento novo, mas por todo o aparato formal-burocrático existente no Brasil para provar que alguém não consiga passar a perna no próximo.

Por exemplo, xerox autenticado e firma reconhecida: existem para dizer que aquela cópia não é falsificada, e que aquela pessoa não falsificou sua assinatura. É a inversão do ônus da prova de sua honestidade: é falso até que se prove o contrário. Quanto tempo se gasta, quanto se ganha e quanto se rouba com todo esse aparato? Quando as pessoas confiam nas outras, há menos necessidade de advogados, menos necessidade de contratos formais.

Outras pesquisas do gênero indicam que países ricos e sem desigualdade social são onde a confiança prospera mais facilmente, já que há menos criminalidade, mais segurança, portanto menos o que temer.
Confiança dos noruegueses no Parlamento é tão alta que se consegue discutir política de verdade.

 A confiança do norueguês parece se aplicar também ao governo e aos políticos em geral. Sem o fisiologismo do toma-la-da-ca que envenena a vida política no Brasil, é possível discutir democraticamente o que é melhor para o país num horizonte de tempo bem mais amplo do que mandatos de 4 anos. Foi assim que conseguiram por exemplo criar uma política petrolífera capaz de produzir e distribuir riqueza interna a ponto de alçar um dos países mais pobres da Europa ao que é hoje.

Há quem diga que a confiança dos noruegueses é ao mesmo tempo sua maior força e sua maior vulnerabilidade. É então de se imaginar como essa fortaleza deve ter sido tão duramente atingida quando um jovem vestido de policial - a representação em si da confiança nas instituições - se aproxima de um grupo de adolescentes da juventude do Partido Trabalhista, na ilha de Utøya, para então abrir fogo e matar mais de 70.

sábado, 14 de setembro de 2013

Governo norueguês vai ajudar a limpar imagem do ultradireita FrP associada a Breivik

A imprensa internacional tem repercutido criticamente as últimas eleições parlamentares na Noruega, dando destaque para a ascensão ao poder do ex-partido do terrorista Anders Behring Breivik, o populista ultradireita Fremskrittspartiet (FrP), comandado pela durona Siv Jensen.

A política de imigração do FrP é radical: asilos-prisão, expulsão, proibição de permanência por casamento, construção de asilos fora da Noruega entre outras gentilezas. O terrorista Anders Behring Breivik, que matou mais de 70 jovens do partido trabalhista Ap num ataque declarado à política de imigração do governo atual, foi brevemente filiado ao FrP, mas hoje está desligado.

Faksimile av omstridd omslag i The Independent - Faksimile av oppslag om Frp i britiske The Independent.
O The Independente chapou uma foto lado-a-lado do terrorista e da líder do FrP Siv Jensen; a verdade dói.

Jornais importantes como o The New York Times, The Guardian, NBC News, Reuters, AlJazeera, The Independent, Deutsche Welle, lembraram a passagem de Breivik pelo FrP e destacaram o caráter anti-imigração do partido e seu peso na negociação do próximo governo.

Isso causou alvoroço no pequeno Reino da Noruega. Aproveitando a onda, o ministro da cooperação Heikki Holmås, do social-democrata SV, botou lenha e twittou que é natural que o FrP seja chamado de partido populista de direita, assim como seus pares na Dinamarca (Dansk Folkeparti) e Suécia (Sverigedemokratene). Em resposta, a futura primeira-ministra Erna Solberg, do partido Høyre (Direita), tomou as dores do irmão menor e exigiu um pedido de desculpa de Holmås, que claro negou, já que a própria Grande Enciclopédia da Noruega usa o termo "populismo de direita" (høyrepopulisme) para descrever o partido (!). Depois vieram os dois menores de centro VenstreKrF, e botaram panos quentes, dizendo que a imprensa internacional exagerou, que o FrP não é tão feio assim.

Isso tudo um dia antes de se iniciarem as negociações para formação do novo governo de direita, em que o FrP é o segundo maior dentro os quatro partidos do bloco conservador, com 16% dos votos e 29 dos 169 assentos do parlamento. E já declarou que virá com tudo.

Até o próprio Ministério das Relações Exteriores (UD), pilotado pela coalizão derrotada, já viu que o ventilador vai soprar para o seu lado também. A avaliação do governo é que essa ligação sinistra entre Breivik e FrP prejudica a reputação não apenas do partido, mas de todo país. O ministro Espen Barth Eide (Ap) declarou que vai intervir junto às embaixadas para ajudar a limpar a imagem do partido e do país junto à comunidade internacional. Mais ou menos como se o Itamaraty saísse publicamente em defesa do DEM. Vão dizer o quê? Que o Breivik não é mais filiado? Que o FrP gosta de imigrante? Prato cheio para os marketeiros políticos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Eleições na Noruega: virada conservadora ou ultraconservadora?

Anteontem (9/9/2013) houve eleições parlamentares na Noruega, e uma virada política já anunciada há alguns anos finalmente aconteceu: a mudança de governo da atual coalizão social-democrata para uma provável coalizão direita-ultradireita. Os partidos conservadores alcançaram ampla maioria no Parlamento.


A direita (azul) ganhou 96 cadeiras no parlamento, enquanto a coalizão social democrata (vermelho) ficou com 72; é preciso 86 cadeiras para obter maioria. Fonte: NRK

O espectro político azul consiste em dois partidos de direita, o Høyre (em azul claro acima), de onde vem a futura primeira-ministra Erna Solberg, o Fremskrittpartiet, de ultradireita (azul escuro), e dois partidos menores de centro, o cristão KrF (amarelo) e o "esquerda" Venstre (turquesa).

Os debates eleitorais mostraram que, por um lado, os social-democratas têm receio que um governo de cunho mais neoliberal abra espaço para maior privatização de setores hoje públicos, causando desigualdade social e desestruturando o estado de bem-estar social. Os conservadores argumentam que há má gestão no setor público e que é preciso abrir espaço para o setor privado.

Um exemplo claro da divergência entre as duas alas diz respeito ao imposto sobre grandes fortunas (formueskatt); a esquerda entende que é importante manter e se possível aumentar, para manter a igualdade social; a direita, encabeçada pelo Høyre, sustenta que o imposto afeta a capacidade de concorrência das empresas e quer elimina-lo. Essa medida viria p.ex. a beneficiar o miliardário Olav Thon (90) em cerca de RS 23 milhões.


Quem formará o próximo governo?

Como o novo governo norueguês será formado? Será uma aliança entre os 4 partidos? será uma aliança azul-escura, entre Høyre e FrP, sem os dois de centro? Ou será que Høyre e FrP se aliarão ao Venstre, deixando o KrF de lado?

 fire borgerlige partiledere  (Foto: Aas, Erlend/NTB scanpix)
 O bloco conservador: Siv Jensen (FrP), Erna Solberg (Høyre), Knut Arild Hareide (KrF) e Trine Skei Grande (Venstre) devem negociar nos próximos dias para decidir quem fica com que pedaço do bolo.

No sistema parlamentarista norueguês, depois das eleições os partidos do bloco vencedor se sentam para negociar qual será a plataforma de governo, e quem fará parte. Essa bateria de negociatas entre os quatro partidos do bloco conservador está se iniciando agora, é crucial para definir o perfil do futuro governo, e pode se estender por semanas, até que se chegue a um acordo.

O Høyre, partido principal do bloco, assume um papel de líder e mediador; Erna Solberg costuma se pronunciar de forma conciliadora, evasiva, prefere governar com todos juntos.


 A reconchuda Erna Solberg é a futura primeira-ministra norueguesa

O ultradireita FrP, por outro lado, é o cachorro-louco populista comandado pela agressiva Siv Jensen: chegam ao poder pela primeira vez com o peso de 29 assentos, e sabem que o Høyre precisa deles para governar. FrP já declarou que pretende abocanhar pelo menos 5 ou 6 ministérios, entre eles o de Finanças e o de Petróleo/Energia.


A plataforma do FrP é radical ultradireita, populista, e tem como bandeiras cortar impostos, diminuir o preço da gasolina, acabar com pedágio, expulsar imigrantes. O partido defende a retirada da assinatura da convenção de clima por entender que mudanças climáticas não são causadas pelo homem. Trata-se do partido a que se filiava o terrorista Anders Breivik que matou mais de setenta pessoas na ilha de Utøya há dois anos atrás.

Isso mesmo, com 16,3% dos votos e 29 cadeiras no parlamento, a partir de ontem.

– Morna, Jens!
Siv Jensen, de vestido 'dildo', anteontem: o ultradireita FrP deve chegar babando na mesa de negociação para formação do novo governo.

Os partidos de centro KrF e Venstre, embora menores, têm um papel-chave de fiel da balança: sem pelo menos um deles, Erna Solberg não consegue maioria para governar. Com esse trunfo, sentam-se na mesa de negociação lado a lado, e já declararam que pretendem entrar juntos. São os partidos que levantam bandeiras como ambientalismo e combate à pobreza.

Há diversos assuntos que podem rachar esse bloco conservador, afastando os partidos de centro. A abertura de Lofoten e Vesterålen, áreas de reprodução de bacalhau, para exploração de petróleo é um deles. Venstre e KrF são contra; Høyre e FrP a favor. Na prática, ou os partidos de centro se curvam (pelo menos um), ou caem fora. Neste último caso, seria formado um governo de minoria por Høyre e FrP, para muitos o pior pesadelo possível. O KrF já disse que prefere ser oposição do que sentar num governo "azul-escuro" Høyre/FrP. Resta saber quão hábil será Erna Solberg para segurar os cachorros de Siv Jensen.


domingo, 1 de setembro de 2013

Noruegueses não querem sediar Olimpíadas em 2022

Plebiscito definirá se Oslo concorrerá a sede da Olimpiada de Inverno 2022; para maioria, é grana mal gasta do contribuinte.

Os eleitores de Oslo, além de votarem nas eleições parlamentares nos próximos dias 8 e 9 de setembro de 2013, participarão também de um plebiscito para responder à seguinte questão:

- Oslo deve concorrer a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2022?


Video institucional da prefeitura de Oslo sobre a candidatura para sediar as Olimpíadas de Inverno 2022: "Um país pequeno; uma nação de esportes de inverno"

O assunto tomou as primeiras páginas dos jornais quando uma pesquisa de intenção de voto do maior jornal do país mostrou que quase metade dos entrevistados (47%) não quer saber de olimpíadas.
A partir daqui, qualquer semelhança com a realidade brasileira - guardadas as devidas proporções - não é mera coincidência.
De fato, a razão da rejeição do eleitor de Oslo aos jogos de inverno de 2022 parece com a dos brasileiros nos protestos em massa de junho passado: muita grana gasta com festa e pompa, ao invés de usa-la para coisas mais importantes como melhorias na saúde, educação e infraestrutura das cidades.

Para uns, é dinheiro demais mal gasto; para outros, trata-se da identidade nacional

Aqueles que apoiam a ideia argumentam que não se trata apenas de dinheiro, mas de algo essencial para a própria formação da identidade nacional norueguesa. Argumentam que é um investimento na formação de futuros atletas que serão responsáveis por manter a tradição e o renome da Noruega nos esportes de inverno, assim como aconteceu nos jogos de Lillehammer em 1994, um evento repleto de simbolismo, guardado com carinho na memória dos noruegueses. O video institucional da prefeitura de Oslo mostra bem o tom nacionalista que os marqueteiros políticos recomendam.
Por outro lado, muitos criticam o legado deixado pelos jogos passados (Oslo 1952, Lillehammer 1994), afirmando que boa parte da infraestrutura criada hoje está sub-utilizada, e que portando esse dinheiro deveria ser gasto com outras coisas mais importantes. Assim vociferou por exemplo um articulista do popular jornal Dagbladet:  "todos em Oslo sabem que a cidade tem grandes desafios no tocante ao seu desenvolvimento, modernização e nova infraestrutura. Muitos entendem também que uma Olimpíada que custa 35 bilhões de coroas [US$ 5,5 bi] não é o caminho natural para resolver esses problemas. [...] A campanha pró-Olimpíada não está ancorada no povo; ela é feita pelos cartolas, empresários e políticos que gostam de se mostrar nos camarotes VIP sob os holofotes das grandes festas desportivas."

Olympiapark in Lillehammer, Opening Ceremony February 12, 1994, Norway, Norge
Jogos de Inverno de Lillehammer em 1994 é até hoje lembrado com orgulho pelos noruegueses


O barato que sai caro

O tamanho da conta é claro um dos principais focos do debate: enquanto o orçamento oficial fala em US$ 5,5 bilhões, até mesmo entre os cartolas desconfia-se que a conta é subestimada e pode chegar a até o dobro. Outro aspecto é quem paga: o Estado Norueguês - entenda-se o cidadão-contribuinte - deve arcar com a dolorosa quase toda, seja ela do tamanho que for.
"Para vender o evento, fazem um orçamento subestimado de propósito; os organizadores não querem que pareça muito caro", comenta um professor de economia. No entanto, na hora do vamos-ver a coisa é outra: "No começo é para ser barato e sem pompas. Mas a experiência mostra que o evento é usado para promover a cidade, para festas e tantas outras coisas. Não corresponde com a sobriedade apresentada no início", soltou o professor.
No Brasil, por outro lado, até hoje sequer existe um orçamento previsto para a Olimpíada de 2016; quando sua candidatura foi lançada em 2009, o número publicado era de cerca de R$ 23,2 bi (US$ 9,7 bi). Em 2011, já tinha gente dizendo que esse custo batia já nos R$ 41,5 bi (US$ 17,3 bi), o que chegou a ser confirmado pela Autoridade Pública Olímpica.
Os apoiadores do evento em Oslo argumentam que não importa o quanto se gasta, e sim os quanto se ganha com os retornos econômicos gerados, estimados em cerca do triplo do investido. Exatamente a mesma retórica usada por Lula na época em que o Brasil ganhou o direito de sediar o evento: "Nós estamos investindo na nossa nação, nós vamos ter de investir mais na formação profissional de atletas, nós vamos ter de construir mais coisas, melhorar ruas, melhorar o metrô, melhorar as avenidas, melhorar o transporte, ou seja, tudo isso é investimento para a Olimpíada, mas, ao mesmo tempo, são investimentos que vão permitir a melhoria da qualidade de vida do povo da cidade do Rio de Janeiro", disse o ex-presidente na época. Já vimos esse filme?


Conflito de geração: velhos egoístas

Apesar da importância dos jogos de inverno para a identidade nacional, aqueles que vivenciaram esse momento nos anos 50 e 90 são justamente os que mais rejeitam a ideia de novamente sediar o evento em 2022. As pesquisas de intenção mostram que o maior índice de rejeição está concentrado em faixas etárias maiores, e que entre os jovens a ideia de sediar uma olimpíada de inverno não é tão ruim assim, pelo contrário pode vir a ser divertida.
Essa peculiaridade levou o debate a alcançar tons inusitados recentemente, quando apoiadores da ideia saíram chamando os mais velhos de egoístas e estraga-prazeres, por quererem privar os jovens de vivenciar uma olimpíada de perto, como fizeram em 1994 ou 1952.

Plebiscito de mentirinha

Embora a resistência à ideia de sediar a Olimpiada de Inverno de 2022 seja grande, a pressão por realiza-la parece ser maior. Alguns cartolas já saíram dizendo que não se deveria nunca ter se convocado um plebiscito para decidir isso, e que a população não sabe o que é melhor para ela própria. O prefeito de Oslo já aventou a possibilidade de atropelar o pleito e apresentar a candidatura independentemente do resultado; na página da internet da prefeitura onde se anuncia o pleito da semana que vem, o plebiscito consta como de caráter "consultivo".


http://www.valg.oslo.kommune.no/folkeavstemning/hvordan_ser_stemmeseddelen_ut/
http://www.nrk.no/sport/slik-krympet-de-ol-med-6-mrd-1.11207887
http://www.nrk.no/sport/idretts-norge-i-tvil-om-ol-budsjett-1.11212314
http://www.dagbladet.no/2013/08/31/kultur/meninger/hovedkommentar/kommentar/ol/28998588/
http://esporte.uol.com.br/rio-2016/ultimas-noticias/2013/08/02/organizacao-adia-para-o-fim-do-ano-divulgacao-do-custo-da-olimpiada-de-2016.htm




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ministro norueguês preocupado com o Código Florestal

O ministro de meio ambiente norueguês Bård Solhjell manifestou esta semana preocupação com a proteção das florestas. O governo norueguês tem investido uma boa grana no Fundo Amazônia para promover políticas efetivas de redução do desmatamento no bioma, como principal instrumento de uma política de desmatamento evitado (REDD). Agora, estão preocupados com outras questões que podem afetar os esforços feitos até agora.

 
Ministro de Meio Ambiente Bård Solhjell está preocupado com o Código Florestal. 
Foto: Scanpix

A principal questão é o destino do Código Florestal. O meandro de firulas jurídico-regimentais que gravitam em torno das propostas negociadas é demasiado espesso para dar aos noruegueses uma noção clara do que está em jogo. "Não sabemos o que está acontecendo após o veto", confessa o ministro. Há uma preocupação em torno da possibilidade de redução da área florestal que proprietários estão obrigados a manter, bem como de anistia a desmatamentos ilegais.
Enquanto o Código é esquartejado conforme o regimento de Brasília, a grana do Fundo Amazônia continua parada, de acordo com o entendimento do ministro. "É importante que esse recurso leve a políticas que efetivamente levem à diminuição do desmatamento. Pagamos pelos resultados alcançados", disse Solhjell à agência Reuters.
Na Indonésia, outro país que mantém políticas de REDD para controle do desmatamento em parceria com a Noruega, as coisas tampouco parecem caminhar muito bem. Apesar do acordo celebrado em 2011, que incluía uma moratória  exigida pelo governo norueguês como condição, o desmatamento parece continuar rolando solto por lá. "A Indonésia precisa dar o próximo passo, passar da fase inicial para a próxima fase em que efetivamente se reduza o desmatamento", afirmou o ministro, repetindo a ladainha: "o dinheiro depende dos resultados".

Fonte: http://www.aftenposten.no/nyheter/uriks/.UDyNv53va7o.email