Numa excelente reportagem publicada pela revista Piauí, o jornalista Luiz Maklouf Carvalho expôs um lado pouco visto da indústria petrolífera, atualmente em estado de euforia pelas prometidas reservas do pré-sal: o dos riscos da intensificação da exploração de petróleo e da falta de preparo das empresas para lidar com acidentes. Maklouf descreve o trabalho do Ibama no monitoramento dos Planos de Emergência Individuais, feito através de testes simulados, e como a Petrobrás tem repetidamente bombado nas provas.
Fonte: Revista Piauí, ed. 50
Mais recentemente, sua correspondente norueguesa, a poderosa Statoil, também vem recebendo críticas do Klima- og Forurensningsdirektoratet (Klif), o equivalente ao Ibama norueguês, responsável por monitorar a capacidade de resposta a emergências (oljevernberedskap) das empresas operadoras que atuam no Mar do Norte. Em seis meses, a Statoil foi notificada duas vezes pelo Klif, que identificou, através de auditorias, irregularidades no sistema de emergência da empresa em Haltenbanken e no terminal de Sture, em Hordaland.
Pois é, não é só aqui no Brasil que as empresas são pouco preparadas para atuar em emergências. Mas o interessante aqui é dar uma olhada no quê de errado existe nos planos de emergência das petrolíferas brasileira e norueguesa.
No Mar do Norte, as auditorias da agência ambiental norueguesa sobre a estatal petrolífera acusou falhas da seguinte natureza: lacunas na base de análise e nos documentos dos planos de ação emergencial, falta de documentação que ateste que os planos estão baseados na regulamentação vigente, falta de informação no portal de transparência sobre acidentes (oljeportalen.no), falha na verificação da suficiência dos sistemas de emergência, entre outras falhas de documentação ou de caráter formal. A empresa reconheceu que pode melhorar, mas negou que os sistemas de emergência não estejam funcionando.
Enquanto isso, no Brasil, em um dos testes simulados feitos pelo Ibama junto à Petrobras, os técnicos identificaram problemas deste nível: “Houve problemas no lançamento da barreira de contenção, que não foi inflada completamente, e houve a quebra do skimmer após a sua colocação na água.” Ou seja, aquelas bóias que limitam o esparramo do petróleo no mar não encheram, e a bomba que chupa o petróleo para fora do mar (skimmer) quebrou. Sequer o helicóptero utilizado na operação tinha combustível suficiente para sobrevoar a área afetada pelo tempo necessário. Na prática, se real fosse o exercício, a Petrobras não teria sido capaz de reagir em tempo, diante de tantas falhas materiais. Detalhe: fora previamente avisada da data do exercício. Em um segundo parecer sobre a capacidade de resposta da Petrobras, a equipe do Ibama conclui: “Levando em conta as pretensões da empresa em ampliar suas operações de exploração e produção de óleo na Bacia de Santos, entende-se que, para futuros empreendimentos, a empresa deverá reformular toda a sua estrutura de emergência.”