Protestos contra a política socioambiental do governo Temer - que inclui redução de áreas protegidas, desmantelamento do licenciamento ambiental, grilagem de terras públicas - marcaram a visita do presidente ilegítimo à Noruega ontem e hoje (23/6/17). O aumento do desmatamento nos últimos dois anos de cerca de 30% foi o pano de fundo que marcou - ou manchou - o encontro entre os dois ministros de meio ambiente. O governo norueguês, fiel à sua política de cooperação de resultados, anunciou uma redução de cerca de 50% - mais ou menos R$ 160 milhões - no apoio ao Fundo Amazônia, devido ao aumento do desmatamento.
No entanto, a atenção de Temer neste momento está voltada não para a maior floresta tropical do planeta, mas para o mar - mais especificamente, a plataforma continental brasileira e o petróleo que se encontra embaixo do chão.
A reunião de Temer com o empresariado norueguês foi o ponto principal da agenda do golpista ontem. Recepcionado pela Associação dos Armadores da Noruega - organização que representa os interesses de empresas que fretam embarcações que prestam serviços à Petrobras - a delegação brasileira gastou a tarde confabulando como os interesses do empresariado norueguês no Brasil podem ser preservados nesse clima de crise.
O setor de petróleo norueguês é o salva-vidas da Petrobras na era pós-petrolão. A petroleira estatal norueguesa Statoil é hoje a maior operadora em solo brasileiro depois da Petrobras, e vem expandindo a passos largos seus ativos no Brasil. A empresa já investiu cerca de USD 10 bilhões no Brasil, e tem planos de triplicar sua produção até 2030. Fez um lobby poderoso mas silencioso para reformar o marco legal do pré-sal, de forma a permitir que empresas estrangeiras pudessem se tornar operadoras de campos na região do pré-sal, o que antes era algo reservado apenas à Petrobras.
Uma vez aberta a porteira e alterada a lei - o que Temer fez questão de priorizar assim que sentou na cadeira de presidente -, a empresa se apressou em adquirir a participação da Petrobras no campo de Carcará, na região do pré-sal, pelo valor de USD 2,5 bilhões - mais do que o dobro do apoio prometido ao Fundo Amazônia desde seu início, de uma tacada só. Metade do negócio foi desembolsado adiantado, em dinheiro, para ajudar a Petrobras a fazer caixa e sair da lama. O acordo foi questionado na justiça por não ter sido objeto de licitação, mas a petroleira norueguesa até agora tem conseguido dobrar os juízes brasileiros, mantendo a validade do negócio.
De outro lado, uma miríade de pequenas e médias empresas norueguesas que orbitam em torno da Petrobras foram as grandes "perdedoras" de toda a onda do petrolão. No calor da crise, uma das medidas tomadas pela Petrobras foi enxugar sua carteira de fornecedores, rescindindo contratos de afretamento de embarcações norueguesas no valor de bilhões de dólares. Agora, elas querem entrar no jogo de novo. Certamente essa foi a principal mensagem do empresariado norueguês para Temer.
Para agrada-los, nada melhor do que um gordo pacote de incentivos fiscais. É o que Temer pretende priorizar através da renovação do REPETRO, o regime de bondades fiscais que se aplica a exportação e importação de bens e serviços utilizados na produção petrolífera, e cujo prazo expira em 2019. Sem a renovação do REPETRO, difícil fazer o setor voltar a bombar como há dez anos atrás.
Não surpreenderia se esta fosse a próxima bola da vez, depois que ele voltar ao Brasil. Isso se ele conseguir se manter na cadeira por tempo suficiente. Sinceramente espero que não.
Capiroto foi recebido com um sonoro #FORATEMER, com sotaque norueguês, em Oslo hoje (23/6/17)
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A reunião de Temer com o empresariado norueguês foi o ponto principal da agenda do golpista ontem. Recepcionado pela Associação dos Armadores da Noruega - organização que representa os interesses de empresas que fretam embarcações que prestam serviços à Petrobras - a delegação brasileira gastou a tarde confabulando como os interesses do empresariado norueguês no Brasil podem ser preservados nesse clima de crise.
O setor de petróleo norueguês é o salva-vidas da Petrobras na era pós-petrolão. A petroleira estatal norueguesa Statoil é hoje a maior operadora em solo brasileiro depois da Petrobras, e vem expandindo a passos largos seus ativos no Brasil. A empresa já investiu cerca de USD 10 bilhões no Brasil, e tem planos de triplicar sua produção até 2030. Fez um lobby poderoso mas silencioso para reformar o marco legal do pré-sal, de forma a permitir que empresas estrangeiras pudessem se tornar operadoras de campos na região do pré-sal, o que antes era algo reservado apenas à Petrobras.
Uma vez aberta a porteira e alterada a lei - o que Temer fez questão de priorizar assim que sentou na cadeira de presidente -, a empresa se apressou em adquirir a participação da Petrobras no campo de Carcará, na região do pré-sal, pelo valor de USD 2,5 bilhões - mais do que o dobro do apoio prometido ao Fundo Amazônia desde seu início, de uma tacada só. Metade do negócio foi desembolsado adiantado, em dinheiro, para ajudar a Petrobras a fazer caixa e sair da lama. O acordo foi questionado na justiça por não ter sido objeto de licitação, mas a petroleira norueguesa até agora tem conseguido dobrar os juízes brasileiros, mantendo a validade do negócio.
Statoil segue ampliando seu portfolio de ativos no Brasil, agora também como operadora no pré-sal, graças à mudança na legislação promovida por Temer. |
De outro lado, uma miríade de pequenas e médias empresas norueguesas que orbitam em torno da Petrobras foram as grandes "perdedoras" de toda a onda do petrolão. No calor da crise, uma das medidas tomadas pela Petrobras foi enxugar sua carteira de fornecedores, rescindindo contratos de afretamento de embarcações norueguesas no valor de bilhões de dólares. Agora, elas querem entrar no jogo de novo. Certamente essa foi a principal mensagem do empresariado norueguês para Temer.
Para agrada-los, nada melhor do que um gordo pacote de incentivos fiscais. É o que Temer pretende priorizar através da renovação do REPETRO, o regime de bondades fiscais que se aplica a exportação e importação de bens e serviços utilizados na produção petrolífera, e cujo prazo expira em 2019. Sem a renovação do REPETRO, difícil fazer o setor voltar a bombar como há dez anos atrás.
Não surpreenderia se esta fosse a próxima bola da vez, depois que ele voltar ao Brasil. Isso se ele conseguir se manter na cadeira por tempo suficiente. Sinceramente espero que não.
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