A Noruega foi colônia dinamarquesa por cerca de 300 anos. Lá atrás, lá pelo ano 1000, depois de muitos pequenos reinos Vikings se matando ou se aliando, houve um rei chamado Olav Tryggvason que conseguiu converte-los ao Cristianismo. A partir daí a Igreja se juntou ao poder do rei - como é até hoje, a peste negra deu um baque lá pelos 1300, e em 1537 veio o Protestantismo, que trouxe novas ideias sobre o papel da igreja na vida do indivíduo, e de quebra a formalização da soberania do Reino da Dinamarca sobre a Noruega. A partir de então, a Igreja, o rei, o governo e também proprietários de terras passaram a ser dinamarqueses, que exploravam os mares, minérios e florestas das terras do Norte.
Depois fiquei pensando, claro, da mesma forma que o Brasil era o novo "Eldorado", com riquezas exuberantes, ouro, florestas, fartura de rios, mares e peixes, assim devia ser a Noruega para os dinamarqueses, que vivem naquele flat total: florestas, minérios e mares ricos em peixe - o mais famoso dele o bacalhau, legenda norueguesa mais marcante para o imaginário popular dos brasileiros.
Embora com poucas terras agricultáveis, a Noruega é rica em florestas, peixes, águas e montanhas. Província de Leikanger, Sogn og Fjordane
Pois bem, no ano de 1814 a Dinamarca, desde 1537 mamando nas tetas norueguesas, se encontrava na posição errada - literalmente naquela em que Napoleão perdeu a guerra. Aliada do imperador francês, a Dinamarca se viu obrigada a "entregar" a Noruega aos suecos, que continuaram explorando as suas riquezas, agora já nos idos da revolução industrial cujos rumores já chegavam naqueles rincões gelados do Norte.
Mas dessa vez já havia gente lá disposta a brigar para não ficar nem com a Dinamarca nem com a Suécia. O Rei Christian VIII Frederik, o próprio "Dom Pedro" sueco vivendo na Noruega, apoiou a proclamação de independência e convocou assembléia geral constituinte em Eidsvoll, onde foi promulgada a Constituição de 17 de Maio de 1814. Quase ao mesmo tempo, em 1822, o Brasil, do seu jeito, com seu próprio rei português, também virava independente.
Mas não foi tão fácil assim convencer os suecos a entregar tudo de bandeja. Conseguiram que a Noruega aceitasse se submeter ao rei da Suécia, desde que pudesse manter seu próprio Parlamento (Stortinget) e Constituição. Embora a bandeira da Noruega não fosse ainda como conhecemos hoje, e o rei ainda fosse sueco, o povo norueguês já podia pelo menos começar a pensar em criar partidos políticos para falar ao parlamento.
Independente mesmo, de verdade, o país virou em 1905, quando o Stortinget se negou a ratificar uma lei exarada da Suécia, e declarou rescindida unilateralmente a união com a Suécia. Na falta de exército, milhares de camponeses se postaram nas fronteiras com a vizinha dispostos a sair no pau caso o rei enviasse um exército. Botaram panos quentes para evitar nova guerra, e agora - há pouco mais de 100 atrás anos - a Noruega era 100% dos noruegueses. Engraçado que a data comemorativa não é a de 1905, mas a da Constituição de 17 de Maio de 1814.
A partir de 1814 ocorre um movimento de revalorização da cultura norueguesa, e uma das expressões mais vivas desse passado é a própria língua. Depois da Constituição, muitos escritores, personalidades literárias e da elite passaram a advogar o resgate da língua norueguesa, até então fortemente influenciada pelo dinamarquês. A disputa pela língua (ou o processo de 'norueguizar' [å fornorske] a língua) é uma parte importante da história da cultura norueguesa. De forma que hoje o que se entende como "norueguês" não é algo simples. Tem pelo menos dois tipos oficiais (mais a língua Sami), e você tem que escolher em qual deles você pretende alfabetizar o seu filho: bokmål ou nynorsk. Além dos inúmeros dialetos que existem nas diferentes regiões do país.
O século XIX viu também a formação de uma sociedade de classes na Noruega, com o processo de industrialização e o comércio internacional, o surgimento de empresas privadas norueguesas de navegação, empreendedores minerário, logo uma classe trabalhadora, que fundou as bases para o surgimento do que viria a ser o futuro Partido dos Trabalhadores (Arbeiderpartiet), ao qual é filiado o atual primeiro ministro Jens Stoltenberg, e inspiraria a Sosialdemokratiet em que vivem hoje.
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